sábado, 16 de abril de 2011

Há muito que não sentia

vontade de escrever aqui. A vontade de escrever é como um lume, apaga-se se o combustível estiver molhado. E o meu é regado tantas vezes com mensagens, e-mails, telefonemas, solicitações (queridas, a pedido, auto-inflingidas, indesejadas) e tanto trabalho.


Não sou feliz aqui, nestes aqui onde estou, que agora são menos. São pequenos, faltam-me as viagens, falta-me a vontade de ir, um sítio onde chegar. E o meu carro, habituado a tanto quilómetro, de repente fica parado. Ir lavá-lo é para mim um entretém, um ponto alto, santa vida suburbana.


Cozinhar para um não tem piada. Ir ao cinema sozinho não tem piada. Passear sozinho não tem piada. Tirar fotos nunca tem piada, mas principalmente se não se tem a quem as mostrar. Pois claro, há os amigos, que os tenho. Mas já abuso deles, dos pouquíssimos que estão perto, dos muitos que estão longe. Sim, porque amigo meu emigra, e se não emigrar emigro eu. É a minha sina, andar de sítio em sítio com defesas emocionais em cima, ou em baixo, dependendo do ponto de vista. Claro que também sou anti-social ou associal ou qualquer coisa oposta a social, mais ainda quando estou só. E não era tanto assim há uns anos atrás, a idade estraga-nos, a menos que nos refinemos. E se me refinei nalgumas coisas, esta não foi uma delas.


Falta-me a minha bicicleta, hoje quase ia comprando uma, mas falta-me a minha cidade, aquela que é mais realmente minha e onde estive mais sozinho. Onde escrevia neste blog como escrevo hoje, com pouco sentido às vezes, mas sempre de um modo sentido.


Falta-me não me lembrar do que não devo quando vejo médicos ou qualquer coisa italiana, que raio que não consiga avançar mais sozinho do que até este ponto. No coração, a menos que haja alguém, sobram sempre ruínas.


Eu já escrevi isto tudo. Twice. De modos muito diferentes, mas a mensagem foi a mesma. Talvez nem seja a que aqui vai escrita, o que se sente, principalmente se vertido demasiadamente rápido por entre as teclas de um keyboard (teclas de um teclado soa mal), tende a ser diferente do que se escreve. Seja. Hoje vou dormir sem um sorriso. Amanhã ele virá. Volta sempre. Nalgumas coisas, sempre nos refinamos.

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