terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ruído

Vivo com ruído, muito ruído, do acordar ao deitar. Não que me falte tempo de sossego, simplesmente por ora não o quero. A vida enfrenta-se aos poucos, à medida das forças que se têm. E eu, que tenho muitas, ou pelo menos assim o creio, vou-as doseando, para que nunca me faltem. É que para além de muitas forças tenho muitas provações, por destino ou feitio, ainda não sei bem.

Hoje porém, matei saudades do silêncio, ao sentir a chuva afagar-me a cara. Que saudades, meu Deus, olhar para cima, direcção ao frio cortante e húmido, lágrimas de água doce num rosto de alto mar.

Será talvez instintivo, mas quase todos os momentos que me lembro de maior felicidade, ou apenas (e não é pouco) de redenção, revejo-me a olhar para cima. Nos momentos penosos, de queixo caído. Se assim se passou na realidade ou se a memória estereotipa, não o poderei dizer. A chuva caindo, essa de certeza, lavou a minha alma. Por breves instantes, preciosos instantes.

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