segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Porque não consigo impedir-me de comentar

A minha resposta a este artigo.

A palavra moda parece-me algo leviana para um aspecto tão central da vida das pessoas. Com quem se namora, com quem se casa, é assunto de grave importância. Que uma pessoa "decida" (por se sentir, em natureza e por respeito a si mesma, obrigada a tal, ou por outros motivos) relacionar-se amorosamente com pessoas do mesmo género sexual acarreta consequências graves. Ir contra o socialmente estabelecido não é nada, mas nada, fácil. Que alguém o faça só por moda, pobre fashion victim. Não excluo que aconteça, mas acho estranho. Acredito mais que pessoas que estejam entre a homossexualidade e a heterossexualidade (o mundo não é a preto e branco) venham a afirmar uma ou outra com mais veemência. Muitos afirmam-se pela homofobia, outros afirmar-se-ão por um orgulho exacerbado e com exibicionismo. Entre os dois, prefiro os segundos, que não fazem mal a ninguém.

Falamos em pressões sociais. Quantos homossexuais se casaram - e casam - com pessoas do sexo oposto, para poder cumprir os desejos da sociedade? É isso que queremos? Devíamos ter uma sociedade onde as pessoas se pudessem sentir bem na sua própria pele. Onde esta questão do ser gay ou hetero fosse irrelevante - cada um é o que é e está bem assim, que seja feliz. Só assim se poderá acabar com modas, quer num sentido quer noutro.

Como JAS reconhece, parece haver pessoas que nasceram e viverão gays (se não for 10%, será uma percentagem nada desprezável). E para esses, que propostas temos, enquanto sociedade? Que vivam sossegados, tímidos, pedindo desculpa de existir? Que não se mostrem demasiado para não nos ofender os olhos? Que se reconheçam como geneticamente/biologicamente/socialmente inferiores? Que assumam que os seus relacionamentos amorosos/sexuais são inferiores aos dos heterossexuais?

Não há aspecto muito mais central na vida de uma pessoa que os seus relacionamentos; apoucar os mesmos é apoucar a própria pessoa (basta pensar em como JAS reagiria se eu começasse a dizer que o seu casamento é coisa que vale pouco, sem significado). Se a questão é os casais gays não poderem ter filhos, estão em igualdade de circunstâncias com heteros que não possam ou não queiram ter filhos.

Meu caro JAS, respeito-o mas gostava de o ouvir falar (ou antes, de o ler) de uma forma mais humana. Lembrando-se de que os gays são seres humanos como os demais e que neste momento os preconceitos sociais os atiram para o gueto dos rejeitados. Sim, nalgumas franjas da sociedade já não é assim, nalguns programas de televisão já se explora comercialmente a homossexualidade como a heterossexualidade, mas que continua a haver miúdos rejeitados pelos pais por serem gays, miúdos espancados por colegas, miúdos (e não poucos...) que se suicidam por serem gozados... E o que incomoda é que alguns desses miúdos se consigam defender sendo mais exuberantes, mais "in-your-face", mais "tenho orgulho em ser quem/como sou"?

Que respostas oferece a sociedade aos homossexuais? Que papel espera deles, que importância lhes dá? Queremos que sejam cidadãos de segunda, há razões para isso? Por mim, a resposta é clara: temos de ser todos iguais perante a lei.

PS: Falar de caixa de Pandora é usar a tática do medo. Ou bem que uma medida é socialmente justa ou bem que não é. Também o divórcio era uma caixa de Pandora, a libertação dos escravos também, o poder de voto das mulheres idem. Fazer o que é bom e justo pode trazer consequências, sim. Quando estas vierem, teremos de tratar/escolher que sejam também elas boas e justas.

Sem comentários: