domingo, 27 de abril de 2008

Avaliação da quantidade

Mais vale uma má avaliação do que nenhuma avaliação, ouvi dizer. Pelo menos pomo-nos a caminho de um sistema mais justo, fazemos a revolução de começar a avaliar. Depois pode-se ajustar o sistema.

Vai daí, os inspectores da PJ serão avaliados pelo número de acusações, os professores universitários pelo número de papers, os professores do liceu (indirectamente) pelo número de chumbos, os médicos quizas pelas altas médicas.

Isto é um sistema que impõe mediocridade. É fácil acusar 1000 pessoas num ano, depois os juizes que se desenvencilhem (claro que depois estes têm também de despachar os casos). É fácil produzir n papers por ano, o grau de exigência é que tem de ser bem menor. É fácil passar os alunos todos, dar altas antes de se ter a certeza que é possível fazê-lo (caso haja problema, outro médico tratará do assunto).

E assim viveremos no paraíso do fantástico mundo das estatísticas. Sabe Deus como os portugueses têm jeito para viver de aparências... O problema é que aquele professor rigoroso que marcava os alunos por ter um nível de exigência alto mas ensinar de forma condizente vai ficar desmotivado. Ora se trabalha mais e melhor que os colegas mas é visto como pior que eles... O investigador que produz papers profundos, bem pensados e úteis vai passar a partir os seus papers em 3, e em vez de os deixar amadurecer mal possa serão logo submetidos. Etc, etc.

Uma má avaliação desmotiva os melhores e piora a qualidade geral do sistema. E não é melhor que nenhuma avaliação, não é um meio caminho para depois acertar agulhas. Se a ideia é fazer uma boa avaliação, porque não há-de esta ser pensada de início? Porque havemos de confiar que quem não soube fazer uma avaliação com pés e cabeça alguma vez há-de conseguir melhorar avaliações incipientes? Pior, à medida que o tempo passa, a capacidade e o discernimento para se fazer uma avaliação de qualidade vão desaparecendo. Tornamo-nos cada vez mais uma sociedade superficial, sem espírito crítico.

Por fim, não defendo que não se avalie. Defendo que não se avalie mal. Para isso, mais vale ficar quieto.

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