sexta-feira, 28 de março de 2008

Um blog reduzido a comentar o que os outros escrevem é uma tristeza

Análise de Nuno Rogeiro com a qual concordo, sobre o papel do governo socialista na resolução do problema do défice:

Nos números, ter-se-á reduzido "a despesa" e aumentado "a receita". Mas que "despesa"? E que "receita"? Começando pela última tratando-se de liquidar dívidas de grandes devedores, ou de tornar visíveis os rendimentos tributáveis de apreciáveis fortunas (os lendários magnates - se é que existem - que se vangloriariam de nunca pagar ao Fisco), ou de combater grupos poderosos e imaginativos de fraude fiscal, a solução é unívoca. Melhore-se a inspecção e a cobrança. Os ricos que paguem a crise. Aplausos, cortina e créditos finais.

Onde nos podemos dividir é na questão da "despesa". Tem o Estado cortado no seu excedente de gestores opacos, departamentos esotéricos, secretárias e assessores pessoais, frotas automóveis, imóveis sobredimensionados, serviços de difícil justificação, isto é, no topo da cadeia? Ou limitou-se a atacar a base, através dos trabalhadores com menor poder, dos serviços "da província" e das populações envelhecidas, da despesa "social" considerada mais dispersa e irrelevante? Cortou o ordenado gigantesco de um administrador público, em empresa deficitária, ou extinguiu o posto médico dos confins, que possui poucos utentes? Retirou o direito ao salário chorudo ao político reciclado, ou o direito à saúde ao reformado da pequena aldeia?

Sabe-se qual é a resposta.


Discurso vago-moralista do costume do Ferreira Fernandes sobre um transsexual que tendo nascido mulher e feito operação de mudança de sexo, manteve os órgãos reprodutivos e agora está grávidO.

Tracy nasceu mulher e quis curar-se disso. Tira aqui, acrescenta ali, mais a testosterona que lhe deu barba, mais as leis do estado de Oregon (EUA) que são modernaças, e ei-la, ele: Thomas. Mas não completamente: guardou útero e ovários. Thomas casou com Nancy. Quiseram filhos, naturalmente na modalidade de apoio externo. Azar, Nancy não pôde. Thomas lembrou-se, então, que já foi Tracy. Disse o que nem em todos os casais se pode dizer: "Se não engravidas tu, engravido eu." De novo, Tracy, Thomas está grávido. Tecnicamente está grávida, mas para entrevistas dá mais jeito estar grávido. Estou grato ao grávido pelo pretexto desta crónica, é uma história de liberdade, onde cada um faz de si o que quer. É uma história de liberdade, mas a prazo. Indo a gravidez em cinco meses, tem mais quatro. Finda as contas naturais (é, a Natureza pode ser toureada mas não em tudo), haverá alguém que nada teve a ver com isto mas sofrerá isto. Nasce e cala-te.

Devo dizer que concordo com ele. Ao fim dos 9 meses, haverá alguém que não teve nada a ver com tudo isto mas sofrerá o tipo de opiniões preconceituosas do Ferreira Fernandes e de outros como ele. Se ele se calasse e deixasse os outros viverem felizes...


Finalmente, um post no blog A origem das espécies sobre a educação. Talvez deixe um bocado de parte o facto de haver infelizmente demasiados professores que sempre foram medíocres por culpa própria, mas de resto acho que coloca a tónica onde deve estar. Vale a pena ler.

As queixas sobre a educação encontraram agora um argumento político de força, graças à manifestação dos professores. A avaliação iria pôr termo a todos os males e levar-nos ao caminho da civilização. Mas, na verdade, a guerra contra os professores e os pedidos para que as autoridades actuem sem recuo faz esquecer o pormenor: avaliem o trabalho do Ministério nos últimos vinte anos. Não dos proprietários ou ocupantes temporários da pasta, mas dos verdadeiros donos do ME, uma classe de experimentalistas que elaboraram programas, preâmbulos a programas, ordens burocráticas e documentos sobre procedimentos burocráticos, escalas de reuniões e curricula absurdos (e que, inclusive, autorizou curricula ainda mais absurdos para valorização «profissional» de professores hábeis, muito hábeis), ausência de razoabilidade em processos disciplinares, reformas e contra-reformas curriculares ao sabor de pantomineirices (como a TLEBS, a imbecilização no ensino da Matemática, da História e da Ciência) que favoreceram a falta de cultura científica e de hábitos de trabalho dos estudantes. Esses são os verdadeiros responsáveis.

[Deve-se optar] por outro caminho: primeiro, tratar da matéria educativa, dos programas, dos curricula, de um estatuto do aluno sério e capaz, da chegada do rigor (esse sim) ao ensino das ciências e das humanidades – depois, tratar também da avaliação dos professores.

1 comentário:

Joao disse...

Parece-me idiota fazer um post com tantos assuntos!

Mas bom.

Não comento economia que não percebo nada. Só lamento que os estudos que levaram à elaboração dos mapas de saúde, judiciário etc e não estejam disponíveis para o público. (ou se calhar estão, mas eu não sei de nada)

...

"Devo dizer que concordo com ele. Ao fim dos 9 meses, haverá alguém que não teve nada a ver com tudo isto mas sofrerá o tipo de opiniões preconceituosas do Ferreira Fernandes (...)"

Por momentos pensei que lhe ías dar razão, mas depois deste-lhe a volta. Foi a tua sorte... (risos)

...

Mas o que eu queria mesmo dizer era que, essa coisa da emissão de programas e do curricula de cima para baixo a partir de um ministério omnipotente parece-me tacanhez anacrónica. Tem-se vindo a experimentar por aí (em Portugal, note-se) escolas com autonomia para remexer nos programas e nos currícula, que são adaptados às necessidades e condicionantes locais. Uma coisa que emerge de baixo para cima. O que é preciso mesmo é que se implemente rapidamente uma série de mecanismos centrados na escola(entre eles a avaliação dos professores, não de qualquer maneira, claro). Depois que se suicide o ministério. E a propósito da sincrecidade deste post, deixem o ministério parir um sistema policêntrico auto-gerente e não me venham com prioridades que reflectem um modelo monobloco desresponsabilizante falido. raios. Há sim que verificar que os mecanismos que ficam são afinados o suficiente, ao longo do tempo. Estar a adiar a sua implementação parece-me estupidez. Que maldição esta constante procrastinação endémica.

(gostaste do emaranhado e dos trocadilhos ? também consigo ser nerd, às vezes. Só não sei é cantar. e pronto, foram 4 coelhas de uma cajadada só.)